sábado, 15 de maio de 2010

Retrato de Helena. ( A face que fez afundar mil navios.)

Açúcar Mascavo. Caramelo. Mel talvez... Não sei bem com que cor de pele Zeus a fez. Sei que, desnudos os seus ombros, parecem doce. Saliva a boca, aperta o paladar um sabor agridoce. Calda aveludada, açucarada, escorre pelos seios, pela pelve e lhe recobre todo o corpo.

Universos paralelos. Como o cosmos, negro opaco, espesso e profundo, com quasares a bilhões de anos trazendo luzes lá do fundo! Assim são os seus olhos, janelas de sua alma que lhe dão o acesso ao mundo.

            Feminil. Exageradamente delicado. Até mesmo infantil! Pétala de flor é objeto bruto. Narizinho tão sutil, até o ar parece estúpido. Obcecado, em cada rosto que vejo eu o procuro. Nas revistas, telas... Mas comparado ao de Helena, é tudo rústico, matuto.

            Um conto-de-fadas, fantasia, aura de criança contornam-lhe a audição. Deixam-lhe mais meiga. “Sininho”! A menininha que, ao colo, acalento nas noites, com todo o meu coração.

Lugar surreal. Praias castanho-avermelhadas, ocras... Lábios! Sugerem as cores de secretos jardins de seu corpo. Contornam os rochedos flavos que guardam a saliva fresca, cuja sede, aflita, implora por sorver.  

Eu pensava estar completo: trabalho, conhecimento, o amor de uma mulher amada..., mas defronte com Helena descobri que eu não tinha nada.

Eu ousei até mesmo ter orgulho.

Porém, sucumbido, Helena me levou tudo. Faminto, sorvo seus farelos e me nutro.

Meu sacrifício foi o seu legado. Parceiro de uma amarrotada e maltrapilha esperança, de sua boca, de seu hálito, seja um dia, um minuto...  

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